Suspensão de vendas de carne na Argentina favorece Brasil, mas sustenta preço do boi

A suspensão das exportações de carnes recém-anunciada pela Argentina deve deslocar parte da demanda externa para o Brasil, seu concorrente direto, porém abre espaço para que as cotações do boi, que já operam em patamar elevado, alcancem novas máximas no mercado brasileiro, conforme analistas ouvidos pela Reuters.

O governo argentino disse na segunda-feira que o bloqueio de vendas por 30 dias é uma medida emergencial devido ao sustentado aumento no preço da carne bovina no mercado local.

“Afeta o Brasil positivamente porque, assim como no Brasil, a China é o principal mercado para os argentinos, então provavelmente os chineses deverão reforçar seus pedidos de carne no restante do mundo”, afirmou nesta terça-feira o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres.

Ele lembrou que, segundo o governo argentino, a medida pode até ser revertida antes do prazo caso se encontre uma solução para limitar a inflação. Mas também há risco de continuidade da intervenção por mais tempo, o que, para os brasileiros, seria uma “oportunidade”.

“Isso gera toda uma expectativa negativa quanto ao cumprimento de contratos pelos argentinos”, acrescentou sobre a visão dos compradores internacionais.

Torres também disse que, historicamente, a Argentina já fez este tipo de intervenção na tentativa de controlar preços e não deu certo, por não existir uma relação direta entre as exportações e o preço interno da carne.

“O sistema funciona em ciclos (pecuários) e eles, assim como nós, estão em um ciclo de alta de preços”, ressaltou ele.

Isso significa que há chances de as restrições aos embarques continuarem além do período estipulado.

MAS…

Parece um cenário perfeito para a concorrência, mas não é.

A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, alertou que os compradores não deixarão de ser atendidos, mas este movimento também significa novas altas de preço para o Brasil, onde a escassez de gado já eleva os custos.

“É mais um fator de suporte para os preços pecuários, inclusive no médio/longo prazo, caso a restrição persista”, afirmou ela.

Ainda que a medida dure apenas 30 dias, a especialista acredita que já seria suficiente para alguma movimentação nas cotações da arroba, mesmo que em menor proporção.

“Hoje a disponibilidade de carne é baixa globalmente, então tudo ajuda a sustentar as cotações”, explicou.

No Brasil, a arroba bovina segue cotada acima de 300 reais, conforme o indicador do centro de estudos Cepea.

Do lado da demanda, as exportações têm dado sustentação aos preços da arroba no Brasil.

A receita com a exportação de carne bovina in natura do Brasil subiu 2,3% no primeiro quadrimestre, para um recorde de 2,16 bilhões de dólares, com impulso da China, que respondeu por cerca de metade deste valor, segundo o Ministério da Agricultura.

EMPRESAS

A Marfrig Global Foods e a Minerva Foods são as empresas diretamente afetadas pela decisão argentina, por terem operações no país vizinho.

A Marfrig divulgou comunicado ao mercado nesta terça-feira dizendo que o impacto se limita a 1,3% da receita líquida consolidada. A concorrente não quis comentar.

E a expectativa é que a Minerva seja a mais afetada, pois no total as operações da Argentina representam cerca de 10% do faturamento global da empresa, disse o head de agronegócios da Criteria Investimentos, Rodrigo Brolo.

“Não vai cair pela metade (a receita) por causa de suspensão em 30 dias, mas abala a confiança dos investidores.”

“A Minerva pode falar que agora vai exportar mais pelo Brasil para suprir essa falta, mas nem sempre é tão simples, pois aqui a qualidade do boi é diferente, os cortes diferentes, não é como vender milho ou soja, são produtos customizados.”

Em reação à decisão do governo, e para complicar o cenário no país vizinho, as principais associações agropecuárias da Argentina anunciaram nesta terça-feira uma suspensão das vendas de gado por nove dias em protesto contra a interrupção das exportações de carne do país.

StoneX aponta queda de 0,79% no confinamento bovino do Brasil em 2021

LOGO REUTERS

SÃO PAULO (Reuters) – O confinamento bovino terá queda de 0,79% em 2021 na comparação com o ano passado, para 4,24 milhões de animais, em meio a um aumento de custos com grãos, apontou nesta terça-feira a StoneX, ao divulgar a primeira pesquisa sobre o assunto para o ano.

A redução é limitada por maior intenção de confinar bois em Estados como Mato Grosso e Goiás, onde as matérias-primas são mais abundantes, acrescentou a consultoria, citando ainda que essas regiões têm grandes estruturas para a atividade.

Em Mato Grosso, o confinamento deverá avançar para 964,8 mil cabeças, cerca de 100 mil a mais na comparação anual, enquanto em Goiás o crescimento é mais modesto, para 833,8 mil aninais.

Os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul deverão ver um recuo no confinamento este ano.

A StoneX disse ainda que o país deverá registrar média de 50% da capacidade estática dos confinamentos, com a maior utilização ficando para o segundo giro, indicando a maior oferta vinda da pecuária intensiva no segundo semestre.

A StoneX informou também que cerca de 36% dos entrevistados ainda necessitam comprar metade de seus insumos para alimentação dos animais, enquanto apenas 25% já garantiram 100% de seus insumos.

“Com as máximas renovadas das cotações dos grãos, o produtor está com um menor poder de compra. Esse cenário é devido ao aumento dos preços dos grãos e, consequentemente, à diminuição da relação de troca do pecuarista entre boi e milho, por exemplo”, notou.

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