Soja: Preços no BR sobem mais de R$ 5 nos últimos 20 dias, mas ainda enfrentam obstáculos

Nos últimos 20 dias – de 2 a 21 de maio – os preços da soja subiram de forma considerável no mercado brasileiro, com altas de até R$ 5,50 por saca. Em Cascavel, no Paraná, o valor no físico passou de R$ 64,00 para R$ 69,50 no período, uma alta de 8,59%. Ganhos semelhantes foram registrados nas principais regiões produtoras do país.

Em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, o valor de uma saca de soja, como referência passou de R$ 63,50 para R$ 68,50 – com alta de 7,09% – em Sorriso/MT, de R$ 60,00 para R$ 64,00 – subindo 6,67% – e em São Gabriel do Oeste/MS, a alta foi de 4,76%, com o indicativo passando de R$ 63,00 para R$ 66,00.

De acordo com informações do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), a média de seu indicador registrou uma valorização de 3,45% em relação à semana anterior.

Uma melhora dos preços no mercado brasileiro foi registrada em todo o país e refletiu, principalmente uma alta forte do dólar – que segue atuando na casa dos R$ 4,00 – e uma demanda bastante forte – e renovada pela soja brasileira.

Essa demanda melhor motivou uma importante retomada dos prêmios no Brasil, que no mesmo período subiram mais de 100% nas principais posições de entrega. O junho saltou de 32 para 95 cents de dólar, o julho de 45 cents para US$ 1,00 e o agosto de 48 para US$ 1,00.

Toda essa movimentação, apesar de uma baixa em Chicago no mesmo período – com as cotações cedendo pouco mais de 2% – movimentou um pouco mais a comercialização no Brasil, depois de meses de um mercado completamente inerte.

“Isso faz com que o produtor mexa mais com a comercialização, mas precisamos separar muito bem as duas safras. A que passou e a que ainda será plantada. E eu acredito que a que passou foi a mais favorecida”, explica Daniel Latorraca, superintendente do Imea.

Ainda segundo ele, o produtor aproveitou os bons momentos trazidos pelo mercado e fechou parte do volume que ainda tem a vender. No entanto, a comercialização da safra nova é a que preocupa mais neste momento, já que a compra de insumos está atrasada neste momento e precisaremos acompanhar como serão os próximas semanas.

“A expectativa com a melhora do preço em real no mercado interno era de que voltassem os negócios, principalmente na área de fertilizantes. Porque com o preço que observamos na semana passada, a troca começou a ficar um pouco mais viável para o produtor que faz o barter e isso pode ter estimulado alguns produtores a comercializarem a próxima safra, temos que acompanhar”, diz Latorraca.

LIMITANTES

Se o ambiente comercial é mais favorável para o produtor brasileiro – com preços melhores e demanda forte pela soja nacional – o mercado ainda enfrenta obstáculos que limitam esse avanço dos negócios. O principal deles continua sendo o tabelamento dos fretes.

Como explicou o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira, “os preços poderiam estar de R$ 4,00 a R$ 5,00 por saca mais altos não fosse este tabelamento. Então, as vendas avançaram, mais estão muito tímidas”.

Pereira explica que as agroindústrias e tradingd ainda têm colocado nos preços a tabela cheia, o que compromete boa parte da renda dos produtores. E que a expectativa agora é de que os valores mudem com a nova metodologia de cálculo dos fretes apresentada pela Esalq a pedido da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre).

“Os cálculos da Esalq mostraram valores bem mais baixos do que os atuais e agora estão sendo feitas as audiências públicas para que se defina o que será feito. Mas essa mudança nos valores de referência traria uma importante melhora, e um avanço nos negócios tanto no mercado físico, quanto no futuro”, explica o presidente da Aprosoja BR.

Dessa forma, ainda segundo Pereira, o importante é que o produtor continue analisando em detalhes seus custos de produção para que possa definir estratégias eficientes para desenvolver a comercialização das duas temporadas.

Ainda assim, alerta para muitas incertezas que são esperadas pela frente. E Daniel Latorraca compartilha do alerta.

“O fato é que há muitas incertezas para a próxima safra. Nas relações China x EUA está claro que não haverá um acordo até lá, isso no curto/curtíssimo prazo é bom para nós, mas no médio e longo prazo não é bom, mantém uma tensão internacional desnecessária para gente. E eu acho que a notícia que precisamos esclarecer melhor é ainda a questão do consumo de soja e farelo na China por conta da questão da Peste Suína Africana lá”, diz.

POTENCIAL

A forte e aquecida demanda pela soja do Brasil é, sem dúvida, o mais importante fator de ganho para o produtor brasileiro. De acordo com números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), os embarques brasileiros de soja, no acumulado do ano, passam de 33 milhões de toneladas e já registram um recorde histórico para o período. Somente nos primeiros 12 dias úteis de maio, o país embarcou mais de 6,1 milhões de toneladas.

“E (o Brasil) mostra fôlego para passar fácil das 10 milhões de toneladas e espaço para superar as 11 milhões de toneladas do grão, 1,5 milhão de farelo e outras 150 mil de óleo”, diz o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. “No complexo soja, o acumulado do ano está com 40 milhões de toneladas”, completa.

E é justamente esse fôlego esperado que tem feito com que o produtor, neste momento, siga retendo suas vendas e esperando momentos ainda melhores. Nos principais momentos do dia de ontem, os portos chegaram a registra indicativos de mais de R$ 82,00 por saca para a safra 2018/19 e até R$ 84,00 quando se trata da safra nova.

E são estes preços, bem melhores do que os de algumas semanas, que indicam a manutenção dessa demanda intensa pela soja brasileira, principalmente por parte da China, que ainda está em guerra comercial com os EUA.

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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