Indústria de ração do Brasil sente impacto de menor crescimento do setor de aves.

A indústria de ração animal do Brasil prevê para este ano um crescimento menor do que o projetado inicialmente, já contabilizando o impacto de restrições às exportações de carne de frango do país, como as da Arábia Saudita, anunciadas em janeiro, afirmou um dirigente do Sindirações nesta segunda-feira.

A expectativa, ao final do ano passado, era de que a produção de ração animal e sal mineral crescesse cerca de 3 por cento em 2019, mas a projeção foi revisada para 2,1 por cento, o que ainda seria um novo recorde de 73,7 milhões de toneladas.

Essa revisão se deve principalmente a uma menor produção a ser demandada pela indústria de frango de corte, maior consumidora de ração do país entre todos os setores, que incluem bovinos e suinocultura, entre outros.

Antes, o Sindirações projetava um aumento de 2 por cento na produção para a avicultura de corte, que consome quase metade de toda a ração produzida no país, maior exportador global de carne de frango.

Agora a entidade vê alta de 1,4 por cento, após o segmento que produz ração para frangos ter enfrentado queda de 2 por cento em 2018, ano em que a greve dos caminhoneiros atingiu a indústria fortemente.

“É uma previsão até otimista para 2019, difícil ter mais sucesso do que já estamos projetando”, disse o vice-presidente-executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani, em entrevista à Reuters, referindo-se ao volume global de produção.

Além das questões que afetam a avicultura, como a confirmação de tarifas de importação pela China ao frango do Brasil –exceto para 14 empresas que venderem acima de determinado preço–, há incertezas relacionadas a custos de produção.

Assombram o setor maiores despesas com frete após o tabelamento pelo governo. Questões tributárias indefinidas e cambiais também estão no radar, enquanto o novo governo lida para aprovar uma reforma da Previdência, algo considerado fundamental para animar o mercado e atrair investimentos.

“Havendo melhora de renda, evidentemente a pessoa não vai comer ovo todo dia, primeiro vai no frango, depois no suíno e no bovino”, disse Zani, lembrando que o consumo de ração para galinhas poedeiras em 2018 aumentou 10 por cento, com o forte consumo de ovos por pessoas que deixaram de comer carne em meio à crise.

Embora a exportação de carnes do Brasil tenha impacto importante da indústria de ração, é o consumo interno a grande alavanca do crescimento do setor.

“Mas ainda não vemos reação da economia. Está todo mundo esperançoso, ainda estamos surfando em cima de um sonho. Oxalá, ele se torne realidade”, declarou o dirigente do Sindirações, lembrando que há também notícias boas de fora, como a retomada de compras de carnes pela Rússia, que já foi um dos principais destinos do produto brasileiro.

Ele disse ainda que as previsões do Sindirações já consideravam uma maior demanda externa por carnes do Brasil por conta de maiores vendas aos russos e aos chineses, que estão importando mais carne de porco em meio à disseminação da peste suína africana, que tem reduzido plantéis no país asiático.

SAFRA MENOR

Com o milho respondendo por entre 60 e 70 por cento da formulação da ração, enquanto o farelo de soja outros 20 por cento, o custo da produção está intrinsecamente ligado ao tamanho da safra brasileira e aos mercados de commodities, assim como ao câmbio, que interfere no preço das matérias-primas.

Segundo o dirigente do Sindirações, a expectativa era de que o setor estivesse enfrentando menores custos com matérias-primas, considerando os bons estoques de milho, neste início de ano.

“Havia expectativa de outra safra generosa, imaginamos que o milho estaria em outro patamar”, disse Zani, comentando que, embora a safra de soja tenha sido quebrada pela seca, a indústria da oleaginosa tem apontado uma estabilidade na produção de farelo.

Enquanto o Brasil espera uma grande produção na segunda safra de milho, em processo de plantio, de olho nos custos a indústria de ração ainda torce para que as discussões sobre a reforma da Previdência se desenvolvam bem no Congresso.

“Dependendo das condições políticas, se as coisas não acontecerem, o câmbio volta a influenciar o custo das matérias-primas e, aí, embora tenhamos grãos suficientes, tem um aumento de custo, aí é um tormento para o produtor”, comentou, lembrando dos efeitos negativos do câmbio para o setor em 2018.

Com a indústria de ração trabalha com matérias-primas que também são exportadas, como soja e milho, se o dólar fica mais forte frente ao real, a tendência é um encarecimento de tais produtos agrícolas.

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