Futuro do café está ameaçado pelas mudanças climáticas?

As mudanças climáticas tornarão muito mais difícil o cultivo do café arábica nos próximos anos. Um estudo realizado pela revista cientifica Plos One examinou  como as condições de cultivo do café mudarão até 2050, de acordo com projeções de vários modelos climáticos globais. Os resultados mostram que as plantas de café serão “drasticamente” menos adequadas para o cultivo nas atuais regiões produtoras de café até 2050, devido aos impactos das mudanças climáticas.

Atualmente, as áreas mais adequadas para o cultivo de café estão na América Central e do Sul, particularmente no Brasil, assim como na África Central e Ocidental e partes do Sul e Sudeste Asiático, de acordo com o estudo de Roman Grüter e outros na Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, na Suíça. Nos próximos 28 anos, os impactos projetados das mudanças climáticas nessas áreas irão torná-las muito menos favoráveis à cafeicultura, de acordo com o relatório.

Atenta a este cenário, nos últimos 17 anos, a Nespresso já investiu mais de US$ 36 milhões no Brasil para aprimoramento e ampliação das práticas sustentáveis, por meio do Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável™?, que oferece assistência técnica aos cafeicultores e a implementação de ferramentas que visam proteger o futuro do café e das fazendas que o cultivam. Hoje, 100% do café Nespresso no Brasil é adquirido por meio do programa, ou seja, de maneira sustentável, tendo 1.300 fazendas ativas nesta prática e com a agricultura regenerativa cada vez mais presente. Por isso, o Portal Agrolink conversou com Guilherme Amado, Líder do Programa AAA de Qualidade Sustentável na Nespresso no Brasil e no Havaí.

Veja a entrevista na íntegra:

PORTAL AGROLINK: O que a Nespresso tem feito para se preparar, caso se confirme a perda da área de produção de café arábica?

Guilherme Amado: Atualmente um dos principais desafios que nós enfrentamos aqui no Brasil e nos demais países produtores de café se chama mudanças climáticas, para nos adaptarmos aos efeitos dessas mudanças que têm impactado a produção de café, seja na quantidade, seja na qualidade, nós temos três ferramentas principais. A primeira delas é um programa de relacionamento com as fazendas de café e que nós chamamos programa Nespresso AAA de Qualidade sustentável. A qualidade sustentável é o que nos define e onde nós associamos três dimensões que são trabalhadas nas fazendas qualidade, sustentabilidade, produtividade. Essa é a receita holística que faz com que as fazendas se tornem mais resilientes e mais resistentes a essas próprias mudanças. A segunda ferramenta é a transição do modelo de cafeicultura para um modelo mais regenerativo e para nós regenerativa, é o modelo de agricultura lucrativo. Então, nós consideramos o pilar econômico e de renda para as fazendas, baseado na natureza. As soluções baseadas na natureza é uma alternativa essencial para reduzir de um lado a pegada de carbono, ou seja, a emissão.

No caso das fazendas de café, principalmente relacionada à fertilização via solo ou o uso do nitrogênio e essas soluções baseadas na natureza, elas podem surgir como alternativas para, de um lado, reduzir a própria missão ou, de outro lado, até remover o carbono ou os gases do efeito estufa na atmosfera, citou dois exemplos: Fertilização orgânica compostagem de um lado ou a própria adubação verde, utilização de plantas de cobertura que fixam nitrogênio no solo. Associado a essas duas ferramentas nós temos a certificação nosso parceiro de implementação do programa triplo A é uma ONG internacional chamada Rainforest Alliance, e nós desde dois mil e nove temos investido fortemente para que as fazendas que fazem parte do programa TRIPLE A aqui no Brasil mil e trezentos fazendas busquem também se certificar como esse selo. É a certificação, ela atua como uma ferramenta de gestão na fazenda, fazendo com que a fazenda fique mais profissional e mais eficiente.

Hoje nós temos mais de cinquenta e cinquenta por cento dos cafés que são exportados no Brasil com essa certificação. E a ideia é sempre aumentar esse volume de cafés certificados. Mas, mais do que tudo, melhorar a parte de gestão das próprias fazendas de café. Por fim, a Nespresso também busca a sua própria certificação, que foi anunciada este ano, que é a certificação BCORP, Certificação com uma empresa B. Essa é uma certificação que faz com que a empresa nexpresso seja reconhecida pelo seu modelo de governança, pelas suas metas ambientais e pelas suas práticas sociais reconhecidas na própria empresa. E isso faz com que também nós, dentro do nosso modelo de negócios, atuemos em parceria e também com o mesmo nível do qual nós exigimos para as fazendas fornecedoras de café.

PORTAL AGROLINK:  Quais são os motivos que ameaçam tão fortemente a produção de café?

Guilherme Amado: Os principais motivos que tem afetado tanto a produção quanto à qualidade dos cafés, aqui no Brasil são relacionados a temperaturas altas, principalmente dias com trinta graus, lembrando que os cafés da espécie Coffe arábica são plantas que performam bem em temperaturas de dezoito a vinte e dois graus. Então dias mais quentes, a planta efetivamente entra em colapso e acaba não realizando os seus processos fisiológicos, como a fotossíntese, que são fundamentais para garantir a produção e a qualidade dos cafés.

Além disso, interrupções do sistema climático e das chuvas no momento que a planta de café precisa, principalmente no período pós florada justamente agora nessa época que nós estamos passando de setembro, outubro ou durante a fase de enchimento de grãos aí durante a fase das chuvas no período úmido, se você tem o que nós chamamos de veranico período prolongado sem chuvas, às vezes interrupção de trinta até noventa dias. Isso acaba efetivamente causando impactos gigantes na produção de cafés especiais. Além disso, os eventos climáticos extremos. Então, nós temos grandes exemplos. No ano passado, duas geadas em dois mil e vinte e um recentemente agora em vinte, vinte e dois nós tivemos a pior chuva de granizo na região do sul de Minas, região maior produtora de café do mundo. Então, com as mudanças climáticas, esses eventos climáticos extremos se tornam cada vez mais constantes. Então, esses são os principais pontos que tem afetado a produção do café. Aqui em termos de Brasil.

Os estudos que traçam a modelagem climática de futura são bastante negativos e em relação aos limiares de aquecimento do planeta, então nós temos um estudo que foi muito emblemático da Embrapa de dois mil e quatro e fala que se o planeta aquecer, um caso mais grave de esse aumento chega acima de cinco cinco graus Celsius que não é não é muito, quase noventa e cinco por cento das áreas produtoras de café que no Brasil não seriam aptas para a produção de café. Além disso, toda essa mudança climática ela faz com que a pressão de pragas, principalmente de doenças, ela aumente também como uma consequência. Então dentro de um ecossistema, diversos fatores acabam impactando. Isso impacta a planta, que acaba impactando a qualidade das sementes, que são torradas para a produção do café na xícara.

PORTAL AGROLINK: Falando sobre sustentabilidade, quais são as principais metas neste sentido?

Guilherme Amado: Eu diria que são três metas principais: a primeira, de atingir zero, o balanço zero. E para atingir isso nós precisaremos reduzir significativamente a nossa emissão de gases. Efeito estufa De um lado e, de outro lado, o que restaurou que nós chamamos de emissão residual tem que ser removido da atmosfera no mesmo patamar e assim o balanço chega a zero. Além disso, metas de que nós chamamos de INSET ou de internalização dessa pegada de carbono com o plantio de árvores, uma jornada que nós começamos em dois mil e catorze. Já plantamos mais de cinco milhões de árvores e ela não termina. Nós continuaremos plantando árvores, lembrando que as árvores, quando crescem, sequestram gás carbônico para a formação dos troncos. Essa é uma meta fundamental nessa direção e além disso, a transição para uma cafeicultura mais regenerativa dentro do processo de transição existem as principais ações ou atividades que fazem com que a pegada de carbono das fazendas diminua de um lado e, de outro lado, haja também a remoção de gases efeito estufa pela adoção de alternativas como os cultivos de cobertura. Plantas que fixam nitrogênio no solo protege o solo de um lado e também do próprio plantio de árvores dentro das áreas de cultivo de café, eu diria que são três metas principais. A primeira, de atingir zero, o balanço zero. E para atingir isso nós precisaremos reduzir significativamente a nossa emissão de gases. Efeito estufa de um lado e, de outro lado, o que restaurou que nós chamamos de emissão residual tem que ser removido da atmosfera no mesmo patamar e assim o balanço chega a zero.

PORTAL AGROLINK: Como está a produção de café em áreas de práticas sustentáveis?

Guilherme Amado: Hoje nós temos cadastradas aqui no Brasil mais de 1300 fazendas estão localizadas em São Paulo, principalmente Minas Gerais e no Espírito Santo. E todas as fazendas que estão cadastradas elas implementam ações sustentáveis para a produção do café que lidam com os três pilares principais. Então, qualidade, sustentabilidade, produtividade! Mas se nós formos ano mais ao fundo, todos os aspectos sociais, ambientais, econômicos dessa produção, que dizem respeito desde ao cuidado do solo, cuidado das águas, cuidados das matas também a parte, controle de rastreabilidade do café a aspectos sociais, de trabalho justo, saúde, segurança, relação com as comunidades ou mesmo boas práticas agrícolas, que também inclui o cuidado com o solo, o cuidado com a água, o controle do uso racional de energia e também um controle das emissões dos gases de efeito estufa.

Fonte: Agrolink

Top