Desaceleração econômica mundial arrasta preços do açúcar para baixo

As preocupações cada vez maiores com o rumo da economia global, com uma possível recessão mundial em 2023, em um cenário crescente de aumento das taxas de juros, fizeram com as cotações do açúcar encerrassem a última semana em baixa nas bolsas internacionais. Várias commodities sentiram o peso dessa pressão econômica e amargam perdas significativas.

Na ICE Futures de Nova York, a sexta-feira (23) viu as cotações do açúcar bruto fecharem em baixa em todos os lotes. O vencimento outubro/22, que expira na próxima sexta-feira, foi contratado a 18,28 centavos de dólar por libra-peso, recuo de 21 pontos, ou 1,1%, no comparativo com os preços praticados na quinta-feira. Já a tela março/23 caiu 36 pontos, negociada a 17,64 cts/lb. Os demais lotes recuaram entre 28 e 34 pontos.

Segundo negociantes ouvidos pela Reuters, o mercado tem algum apoio do aperto de oferta de curto prazo em açúcar bruto e branco, embora ainda se espere um superávit global na temporada 2022/23. “Uma mudança para o uso de mais cana para produzir açúcar em vez de etanol no principal produtor Brasil também deve garantir que haja ampla oferta no médio prazo”.

“À medida que as perspectivas para a economia global continuam a enfraquecer e as expectativas de uma política monetária mais apertada continuam a aumentar, as perspectivas para os preços do açúcar permanecem sombrias, com mais açúcar desviado para adoçantes, em vez de produção de etanol”, disse a Fitch Solutions em nota trazida pela Reuters.

Londres

Em Londres o açúcar branco também fechou no vermelho em todos os vencimentos. O lote dezembro/22 foi contratado a US$ 532,70 a tonelada, recuo de 4,20 dólares no comparativo com os preços de quinta-feira. Já a tela março/23 recuou 6,20 dólares, negociada a US$ 497,30 a tonelada. As demais telas caíram entre 5 e 6,10 dólares.

Análise

Para o economista Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting, “alguns fatores contribuem para uma possível queda do nível de suporte do açúcar em NY: a manutenção da taxa básica de juros do Banco Central e o aumento da taxa do FED combinadas resultam na diminuição do spread atenuando a curva futura do real; a rúpia indiana se desvalorizou em relação ao dólar e o ponto de equilíbrio do açúcar indiano agora está mais perto dos 18.50 centavos de dólar por libra-peso (antes era perto dos 19.50). O preço do hidratado recuperou ligeiramente da queda bruta que sofreu, mas ainda negocia perto dos 400 pontos de desconto em relação à NY, isto é, abaixo do custo de produção. A depender de como vai funcionar o mercado a partir de janeiro de 2023 com um novo governo, caso o etanol não se recupere, certamente teremos uma disponibilidade maior de açúcar prevista para a safra 2023/2024”.

Corrêa destaca ainda que o cenário macro mundial deteriorou-se ainda mais durante a semana encerrada na sexta-feira. “Enquanto os Bancos Centrais elevam as taxas de juros para conter a inflação galopante, o mundo parece caminhar celeremente para uma recessão quase que inevitável para 2023. O volume de dinheiro injetado nas economias para fazer frente à desaceleração global provocada pela covid-19 apresenta agora a conta a ser paga. Excesso de dinheiro injetado na economia causa inflação e os Bancos Centrais demoraram para contê-la. Agora aumentam os juros para conter a inflação que eles próprios provocaram e a recessão bate à porta. Alguém está surpreso ainda?”

Para o diretor da Archer, fator preocupante é o colapso no mercado de energia com o petróleo tipo WTI negociado a 78 dólares por barril, enquanto o Brent saiu a pouco mais de 85 dólares por barril, uma queda na semana de 7.0% e 5.5%, respectivamente. “Com isso, é de se esperar que a Petrobras ajuste os preços para baixo em breve. O hidratado vai seguir o mesmo caminho?”, destaca.

Mercado doméstico

No mercado interno brasileiro a sexta-feira (23) foi de pequena variação positiva nas cotações do açúcar cristal medidas pelo Indicador Cepea/Esalq, da USP. A saca de 50 quilos foi negociada pelas usinas a R$ 124,43, alta de 0,04% no comparativo com os preços da véspera.

Fonte:Agrolink

Top