Selos de boi ‘sustentável’ e ‘orgânico’ valorizam carne e ajudam a preservar o Pantanal.

No Pantanal, os bois são criados soltos, comendo pasto nativo e convivendo com a natureza. Para valorizar esse manejo e melhorar a renda, pecuaristas criaram duas certificações: o selo “carne sustentável” e o de “carne orgânica” do Pantanal.

O boi não é natural dos campos alagados e cheios de vida do Pantanal, mas já faz parte do cenário. Com fartura de água e comida, a região tem 3 milhões de cabeças e é a maior fornecedora de gado para engorda no estado de Mato Grosso do Sul.

A atividade pecuária tem ajudado a manter a biodiversidade no Pantanal. Recentemente, um estudo revelou que 82% da planície está preservada graças à criação de gado. É que o boi cresce no pasto e come o mesmo capim nativo há mais de 200 anos, rios e igarapés são mais protegidos e não se usa produto químico no solo.

De olho num mercado que só cresce, esse modelo extensivo de criação vem sendo aprimorado. A Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO) criou um protocolo de produção de “carne sustentável” e tem atraído criadores.

Eduardo Cruzeta é um deles e mantém um ciclo completo de criação em sua fazenda no município de Corumbá.

Ele explica que o primeiro requisito básico é o boi ser nascido, criado e recriado no Pantanal. Assim, ele se alimenta das pastagens nativas. “Temos inúmeras espécies de gramíneas e leguminosas que conferem sabor e características peculiares à carne produzida aqui”, diz.

O gado também não pode receber antibióticos e quimiossintéticos artificiais de forma preventiva, só mesmo em caso de necessidade. “Se o animal precisar sofrer uma intervenção dessas por mais de três vezes, sai do programa sustentável do Pantanal e vai para o convencional”.

O controle de moscas e carrapatos é feito com produtos naturais, como o óleo de neem, uma planta que tem ação repelente contra os insetos.

Toda a criação é rastreada com brincos eletrônicos e alimentação também é rigorosa. Os animais só recebem suplementação na fase final de engorda e no cocho é permitido sal mineral misturado com soja em grãos.

Para se manter no protocolo do boi sustentável, o pecuarista precisa ainda obedecer às leis trabalhistas e ambientais, seguir regras de boas práticas e manejo consciente. “Não tem mais aquela ‘laçação’, não tem gritaria, é tudo com bandeira, bem organizado”, descreve o capataz Benedito de Souza.

Esse protocolo é o primeiro do Brasil a inserir a conservação ambiental numa certificação de raças bovinas e é passo importante para o criador migrar para o sistema de produção de carne orgânica.

Sistema orgânico
Os únicos criadores de gado orgânico do Pantanal estão em Mato Grosso do Sul. Em Nhecolândia, no coração da planície, o pecuarista Luciano de Barros, sobrinho do poeta Manoel de Barros, adotou o sistema de criação.

Sua fazenda só trabalha com monta natural para reprodução e não usa adubo químico no pasto. O sal servido aos animais não pode ter ureia. Para curar diarreia nos bezerros, os peões usam uma pasta homeopática. Já para a prevenção de verminoses, os bichos recebem sal com produtos naturais.

Depois da desmama, os bezerros vão para o sistema de recria, onde vão crescer comendo apenas pasto e sal mineral até os 24 meses, quando atingem idade e peso ideal para engorda.

Essa etapa é feita na fazenda do irmão de Luciano, Leonardo de Barros, que também é presidente da ABPO. Os animais são enviados para lá andando, em comitivas com 800 a 1.200 cabeças. São 13 dias de viagem.

A fazenda de Leonardo fica na região de Rio Negro, fora do Pantanal, mas também muito rica em vegetação nativa. Lá, os bezerros são apartados em lotes e giram por cinco diferentes áreas de pasto. A prioridade é o ganho de peso rápido e constante.

Com 2,5 anos e aproximadamente 370 quilos, as fêmeas já estão prontas para o abate.

Hoje, 88 mil animais fazem parte do programa da associação. Por mês, são abatidas, em média, 1.200 cabeças. Quem produz orgânico recebe uma bonificação de 10% no valor da arroba, um prêmio pela qualidade da carne.

“A gente trabalha empurrado pela demanda. Todas as vezes que a gente tem um novo associado e um aumento de rebanho é porque existe um consumidor interessado numa carne saudável. Você faz o boi que o consumidor quer”, diz Leonardo de Barros.

A carne produzida pela associação vai para um frigorífico no município de Rochedo, região central do estado. A indústria é parceira do projeto.

A produção é vendida pela Korin, uma empresa especializada em agricultura natural, que viu no boi do Pantanal uma grande oportunidade de negócio.

“O bovino no bioma pantaneiro, ele tem um papel importante na manutenção, na sustentabilidade desse bioma. E esses aspectos são o que nós buscamos. A gente busca fazer com que esse produto se torne um ponto de conscientização, de entendimento por parte dos nossos consumidores”, diz Luiz Carlos Dematté Filho, diretor industrial da Korin.

Oito pecuaristas já têm a certificação sustentável e outros seis, a orgânica. Os bois recebem todas as vacinas obrigatórias.

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