Futuro da agricultura está ameacado pela guerra da Ucrânia?

Há uma incerteza quanto à falta de NPK para o Brasil e a América Latina. Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a preocupação é relativa ao potássio, essencial para a produtividade da soja, café, milho, algodão e cana-de-açúcar, e, se não houver o fornecimento, o país não tem de onde repor.

Conforme as informações divulgadas pela OneSoil, o Brasil compra cloreto de potássio, basicamente, da Rússia e Bielorrúsia. Dos 12,8 milhões de toneladas de cloreto de potássio importados em 2021 pelo Brasil, 9,3 milhões de toneladas foram oriundas desses países, segundo a StoneX. De acordo com a OneSoil, o Brasil comprou no ano passado 41,6 milhões de toneladas de NPK, 21% da Rússia, que está em negociação com o Brasil para enviar fertilizantes, porém, há ainda problemas logísticos, de transações financeiras, aumento do custo do frete e seguro das embarcações.

Sobre a tendência dos preços dos fertilizantes nos próximos meses, a OneSoil explica sobre a alta nos preços de fertilizantes e defende o uso de tecnologia pelos agricultores. Conforme explica a empresa, o preço dos fertilizantes subiu 200% nos últimos dois anos devido aos custos de produção, alta demanda e conjunturas econômicas mundiais e a tendência, segundo a StoneX e o BBA Agro, é de que os preços continuem a subir devido à guerra e que, com a alta dos preços, a compra de fertilizantes no Brasil seja reduzida. Segundo a StoneX, as negociações em fevereiro de 2022 estavam 16% menores. Por isso a importância de utilizar as tecnologias de agricultura de precisão para reduzir custos com aplicação de fertilizantes, acredita a OneSoil.

Especialistas respondem sobre os impactos na Ucrânia e na Europa

Além de Bogdan Lukiyanchuck, Valeriia Vashchenko, gerente de Produtos da OneSoil na Ucrânia, também traz seus comentários sobre o tema.

Haverá plantações na Ucrânia?

Bogdan Lukiyanchuck — Acredito que pelo menos 80% do país vai começar a temporada agrícola normalmente, porque não há tantos territórios ocupados. Também é improvável que haja problemas sérios com as plantações de girassol ou de outras culturas que geralmente são cultivadas nas áreas atualmente ocupadas.

As colheitas serão afetadas?

Bogdan Lukiyanchuck — Os rendimentos vão cair. Inicialmente, havíamos planejado rendimentos mais baixos devido à escassez de fertilizantes, mas agora o problema se agravou.

Como os agricultores ucranianos superaram as crises anteriores?

Valeriia Vashchenko — A covid-19 ensinou os agricultores a estarem sempre prontos para enfrentar as dificuldades. Em 2020, além da epidemia, houve uma seca na Ucrânia que levou aos rendimentos mais baixos em uma década. Agricultores de outras regiões ajudaram aqueles cujas lavouras foram destruídas. Por exemplo, eles enviaram sementes para as regiões de Odesa e Cherkasy para a temporada seguinte. Então, em 2021, houve uma crise de energia, e os preços dos fertilizantes dispararam de 1,5 a 2 vezes (os fertilizantes mais populares, os nitrogenados, são feitos de gás natural). Tudo isso foi um sinal de que havia chegado a hora de os agricultores repensarem sua abordagem em relação aos recursos e à eficiência econômica.

Como a guerra impactou a logística agrícola na Ucrânia?

Valeriia Vashchenko — Hoje, o governo ucraniano está tomando medidas sem precedentes para otimizar os recursos de apoio à agricultura. As transportadoras ferroviárias estão fazendo tudo o que podem para exportar a produção agrícola e importar os recursos necessários de volta. Há planos para eliminar as taxas de importação agrícolas, e também estão sendo tomadas medidas para reduzir o custo dos combustíveis para a época de plantio e para as empresas de logística. Isso por si só já é uma grande ajuda.

Quais são as mudanças que o futuro reserva para a agricultura ucraniana após a guerra?

Valeriia Vashchenko — Muitas pessoas estão começando a pensar na segurança alimentar do país. As fazendas estão tentando montar seu próprio processamento para produzir cereais, alimentos enlatados e outros produtos para o consumo pessoal. Para evitar a escassez de alimentos em regiões da Ucrânia, é crucial que os agricultores produzam seus próprios produtos acabados e não se concentrem apenas na exportação de matérias-primas.

A entrevista foi cedida pela OneSoil.
Fonte:Agrolink

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